segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Temporada de prêmios

Depois de Cannes, Veneza, Toronto e tantos outros festivais de cinema, começou nos Estados Unidos a temporada de premiações dos melhores filmes do ano... de lá, é claro. SAG, WGA, DGA, AFI, Globo de Ouro, Oscar..Sindicatos, organizações, revistas, sites, programas de TV, todos começam a revelar seus indicados ou vencedores a melhores filmes do ano, dividindo-os em categorias ou elegendo obras únicas.


Sem qualquer intenção de criticar as escolhas dos filmes ou sua qualidade – até porque a grande maioria nem estreou por aqui, guardadas pelas produtoras exatamente para essa época do ano – fica a ressalva de que estas são premiações do cinema (e televisão) AMERICANO e não “mundial” como gostam de dizer por aí. O mundial fica apenas no fato da produção de cinema ianque ser hegemônica ao redor do mundo, resistindo e sufocando a produção local de outros países. Mas não vamos falar disso agora, pois seria necessário falar de outros pontos importantes como sistemas de produção, investimento e lucros, indústria e produção independentes, perfil de público...



O objetivo é dizer que, se sua intenção for torcer o nariz para essas premiações, fique a vontade quanto a isso, mas que não seja também para suas produções. Nem tudo o que se faz na “nave-mãe” é descartável e há sempre boas surpresas no meio, ainda que freqüentemente se encontrem produções que agradem apenas àqueles velhinhos ranzinzas sentados em cadeiras cheias de teia de aranha da academia e da velha guarda dos sindicatos.



Como em QUALQUER parte do mundo, há na terra de Obama produções ruins ou boas, independente da quantidade de produção ou dos meios escusos, pérfidos e sujos que permeiam essa produção. Não devemos em momento algum deixar de discutir e apontar os problemas da produção cinematográfica mundial, principalmente o famigerado cinema norte-americano, mas não nos permitamos que a cegueira de um eventual radicalismo anule a oportunidade de assistir a um bom filme, que faça jus a tudo o que o cinema construiu de bom ao longo dos anos. Sim, existem boas obras no cinema do Tio Sam e, se não for para encontrá-las por meio de suas premiações, que seja por outros meios destituídos de qualquer preconceito que possa evitar a apreciação de uma obra relevante.



Segue abaixo a lista de indicados ao Globo de Ouro 2009 e a esperança de que todos continuem a freqüentar os cinemas, seja para falar bem ou mal, seja para assistir produções americanas, brasileiras, inglesas, italianas, francesas, chilenas, iranianas, coreanas, suecas, dinamarquesas, jamaicanas, tibetanas...




cinema
MELHOR FILME [DRAMA]
O Curioso Caso de Benjamin Button
Frost/Nixon
The Reader
Foi Apenas um Sonho
Slumdog Millionaire


MELHOR FILME [MUSICAL ou COMÉDIA]
Queime Depois de Ler
Simplesmente Feliz
Na Mira do Chefe
Mamma Mia!
Vicky Cristina Barcelona


MELHOR ATRIZ [DRAMA]
Anne Hathaway (O Casamento de Rachel)
Angelina Jolie (A Troca)
Meryl Streep (Doubt)
Kristin Scott Thomas (I’ve loved you so long)
Kate Winslet (Foi Apenas um Sonho)


MELHOR ATRIZ [MUSICAL ou COMÉDIA]
Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona)
Sally Hawkins (Simplesmente Feliz)
Frances McDormand (Queime Depois de Ler)
Meryl Streep (Mamma Mia!)
Emma Thompson (Last Chance Harvey)


MELHOR ATOR [DRAMA]
Leonardo DiCaprio (Foi Apenas um Sonho)
Frank Langella (Frost/Nixon)
Sean Penn (Milk)
Brad Pitt (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Mickey Rourke (The Wrestler)


MELHOR ATOR [MUSICAL ou COMÉDIA]
Javier Bardem (Vicky Cristina Barcelona)
Colin Farrell (Na Mira do Chefe)
James Franco (Segurando as Pontas)
Brendan Leeson (Na Mira do Chefe)
Dustin Hoffman (Last Chance Harvey)


MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Bolt - Supercão
Kung Fu Panda
Wall-E


MELHOR FILME DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
The Baader Meinhof Complex (Alemanha)
Everlasting Moments (Suécia/Dinamarca)
Gomorra (Itália)
I’ve loved you so long (França)
Waltz With Bashir (Israel)


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Amy Adams (Doubt)
Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Viola Davis (Doubt)
Marisa Tomei (The Wrestler)
Kate Winslet (The Reader)


MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tom Cruise (Trovão Tropical)
Robert Downey Jr. (Trovão Tropical)
Ralph Fiennes (A Duquesa)
Philip Seymour Hoffman (Doubt)
Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)


MELHOR DIRETOR
Danny Boyle (Slumdog Millionaire)
Stephen Daldry (The Reader)
David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Ron Howard (Frost/Nixon)
Sam Mendes (Foi Apenas um Sonho)


MELHOR ROTEIRO
Simon Beaufoy (Slumdog Millionaire)
David Hare (The Reader)
Peter Morgan (Frost/Nixon)
Eric Roth (O Curioso Caso de Benjamin Button)
John Patrick Shanley (Doubt)


MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Alexandre Desplat (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Clint Eastwood (A Troca)
James Newton Howard (Defiance)
A. R. Rahman (Slumdog Millionaire)
Hans Zimmer (Frost/Nixon)


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Down to Earth (Wall-E)
Gran Torino (Gran Torino)
I Thought I Lost You (Bolt - Supercão)
Once In A Lifetime (Cadillac Records)
The Wrestler” (The Wrestler)


televisão
MELHOR SÉRIE [DRAMA]
Dexter
House
In Treatment
Mad Men
True Blood


MELHOR SÉRIE [MUSICAL ou COMÉDIA]
30 Rock
Californication
Entourage
The Office
Weeds


MELHOR ATRIZ [DRAMA]
Sally Field (Brothers and Sisters)
Mariska Hargitay (Law and Order: SVU)
January Jones (Mad Men)
Anna Paquin (True Blood)
Kyra Sedgwick (The Closer)


MELHOR ATRIZ [MUSICAL ou COMÉDIA]
Christina Applegate (Samatha Who?)
America Ferrea (Ugly Betty)
Tina Fey (30 Rock)
Debra Messing (The Starter Wife)
Mary-Louise Parker (Weeds)


MELHOR ATOR [DRAMA]
Gabriel Byrne (In Treatment)
Michael C. Hall (Dexter)
Jon Hamm (Mad Men)
Hugh Laurie (House)
Jonathan Rhys Meyers (The Tudors)


MELHOR ATOR [MUSICAL ou COMÉDIA]
Alec Baldwin (30 Rock)
Steve Carell (The Office)
Kevin Connolly (Entourage)
David Duchovny (Californication)
Tony Shaloub (Monk)


MELHOR MINISSÉRIE OU FILME
A Raisin in the Sun
Bernard and Doris
Cranford
John Adams
Recount


MELHOR ATRIZ DE MINISSÉRIE OU FILME
Judi Dench (Cranford)
Catherine Keener (An American Crime)
Laura Linney (John Adams)
Shirley Maclaine (Coco Chanel)
Susan Sarandon (Bernard and Doris)


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM MINISSÉRIE OU FILME
Eileen Atkins (Cranford)
Laura Dern (Recount)
Melissa George (In Treatment)
Rachel Griffiths (Brothers and Sisters)
Dianne Wiest (In Treatment)


MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME
Ralph Fiennes (Bernard and Doris)
Paul Giamatti (John Adams)
Kevin Spacey (Recount)
Kiefer Sutherland (24: Redenção)
Tom Wilkinson (Recount)


MELHOR ATOR COADJUVANTE EM MINISSÉRIE OU FILME
Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother)
Denis Leary (Recount)
Jeremy Piven (Entourage)
Blair Underwood (In Treatment)
Tom Wilkinson (John Adams)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dados da Retomada

cinema-nacional2




Alguns dados referentes ao cinema da Retomada no período de 1995 a 2007:

Número de longas lançados:


1995: 13 filmes


1996: 18 filmes


1997: 21 filmes


1998: 23 filmes


1999: 28 filmes


2000: 22 filmes


2001: 30 filmes


2002: 29 filmes


2003: 29 filmes


2004: 28 filmes


2005: 45 filmes


2006: 70 filmes


2007: 78 filmes



Público:


1995: 3.123.508


1996: 1.070.852


1997: 3.750.913


1998: 4.330.557


1999: 6.092.101


2000: 6.341.269


2001: 7.948.065


2002: 7.093.550


2003: 21.584.122


2004: 16.568.848


2005: 10.178.369


2006: 10.641.707


2007: 9.013.789


As 10 maiores bilheterias desde 95:


1º) Dois filhos de Francisco (2005): 5.319.677


2º) Carandiru (2003): 4.693.853


3º) Se Eu Fosse Você (2006): 3.644.956


4º) Cidade de Deus (2002): 3.307.746


5º) Lisbela e o Prisioneiro (2003): 3.169.860


6º) Cazuza – O Tempo Não Pára (2004): 3.082.522


7º) Olga (2004): 3.076.297


8º) Os Normais (2003): 2.977.641


9º) Xuxa e os Duendes (2001): 2.621.793


10º) Tropa de Elite (2006): 2.417.193


Os dados estão disponíveis no site da Ancine - http://www.ancine.gov.br/.


- Curioso perceber como o expressivo salto na quantidade de produções do ano de 2004 para o ano de 2005 seguiu paralelamente a um decréscimo de público.


- 2003, o ano pós-Cidade de Deus viu Carandiru se tornar a maior bilheteria de um filme nacional – e ficou nessa posição até 2005 - e teve o recorde de público da retomada.


- Há pouco mais de quatro anos eu assisti Cazuza – O tempo Não Pára no antigo Cine Ipiranga, um dos mais famosos cinemas do centro de São Paulo, situado na Avenida Ipiranga e que fica de frente a outro clássico, o Marabá. Infelizmente, essas salas estão fechadas desde então (o Marabá ainda exibiu alguns filmes até meados desse ano), sem previsão alguma de reabertura ou reformas. São os cinemas “multiplex” vencendo a batalha.


cinebrasil2002b

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A beleza de Miyazaki

miyazaki Miyazaki tem muito a dizer. Tem tanto a dizer que sua obra não se reflete apenas nas palavras de seus personagens ou na escrita de suas histórias, seja para a televisão, para o cinema ou para meios impressos. Para se ter uma pequena idéia de tudo o que ele tem a dizer, é necessário bastante atenção a todos os componentes de qualquer obra sua. A riqueza de detalhes de suas composições só não parece ser maior do que o esforço depositado ali para que tamanha grandeza repouse numa simplicidade gritante. Se a arquitetura moderna clamava aos quatro cantos que “menos é mais”, em Miyazaki o menos parece ser muito mais.


Fica uma forte impressão ao final de cada filme do animador e cineasta japonês de que estamos diante de alguém que não abre mão, de maneira alguma, da animação tradicional, apenas incorporando novos recursos tecnológicos como meras ferramentas de apoio para esse fim. Mais ainda, Miyazaki nunca deixa em segundo plano sua arte de pinturas, assim como não deixa de lado outras características presentes na maior parte de sua obra, como a preocupação com a natureza ou a aviação, sempre presente em algum nível (fruto das lembranças de sua infância onde o pai trabalhava em uma fábrica de lemes para aviões). O que poderia ser confundido com conservadorismo acaba se revelando como um dom único, de alguém que vive para a arte como forma de conscientização dos males que provocamos ao nosso planeta.


Outra bem sucedida iniciativa é a confiança na possibilidade de se criar algo original, mesmo que trabalhando com um folclore popular que poderia não fazer o menor sentido fora de terras asiáticas. Nunca duvidamos do mundo mágico ou dos personagens divertidos, estranhos, belos ou bizarros que protagonizam as histórias do criador japonês, porque ele, desde o início, os coloca em posições simbólicas, mas nunca fechadas em estereótipos. Mesmo os vilões, ainda que possam estar sugeridos superficialmente como tais através de seu aspecto, nunca podem ser taxados essencialmente como alguém mal. A inversão visual de papéis que Miyazaki constrói em seus filmes mexe com a passividade do espectador, acostumado a receber arquétipos de bandeja. A partir disso, um porco heróico nos remete à ícones do cinema hollywoodiano como Clark Gable, por sua postura e seus princípios de honra, mas que não deixa de ser fisicamente um porco. Ou Sophie, protagonista de O Castelo Animado, que devido a uma maldição passa boa parte da história como uma velha de aparência feia e frágil. Totoro, um “bichinho bonito e fofo”, faz sua magia através de berros assustadores e o que dizer da muitas vezes sombria casa de banhos onde Chihiro é obrigada a trabalhar para salvar os pais? Estas obram não duvidam em momento algum de nossa inteligência, pelo contrário, parecem querer estimulá-la visualmente a todo o instante. A superficialidade de um mundo visualmente esgotado pelo excesso é substituída aqui por um exercício apurado do olhar diante de outro mundo, um pouco mais belo, um pouco mais colorido, por vezes, um pouco mais sombrio, mas, geralmente, muito parecido com o nosso. Para se perceber isso é só prestar atenção nas velhas entrelinhas.


Se nas últimas décadas viu-se crescer certo interesse do ocidente pelo oriente, não há como negar que boa parte desse interesse partiu da cultura popular e sua intrínseca característica de absorver tudo ao seu redor, principalmente aquilo que, aparentemente, seja exótico. Não foi diferente com os filmes, com as pinturas, com os mangás e, finalmente, com os animes japoneses. E ainda que seja um sacrilégio reduzir um filme de Miyazaki a um simples anime (desenho animado japonês), é provável que ele não veja inconveniente algum nisso, pois dentro de sua obra também há um vasto espelho do que a de mais belo na cultura milenar japonesa e do que há na nossa própria cultura, a cultura ocidental de novos e velhos mundos. E se através dessa absorção, pudermos aprender algo mais, nem que seja uma mudança simples de olhar quanto às pequenas coisas da vida, parte dos objetivos de filmes como Porco-Rosso, Meu Vizinho Totoro, A Viagem de Chihiro, Princesa Monoke, Nausicaä, entre tantos outros, estará atingido.


E que as tantas aposentadorias anunciadas por Miyazaki ao longo dos anos, continuem a ser apenas estímulo para que ele retorne com mais obras-primas.


Arigatou gozaimasu, sensei.


hayaomiyazaki

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Crepúsculo dos Deuses

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Não é sempre que um título em português para uma produção estrangeira seja tão sonoro e tão oportuno como no caso de Sunset Blvd: Crepúsculo dos Deuses (1950) é considerado por muitos a obra-prima de Billy Wilder, uma obra de absoluta relevância na história do cinema, cujos ecos soam nítidos e firmes até os nossos dias.

O roteirista fracassado Joe Gillis (William Holden), fugindo de seus cobradores, acaba numa imensa mansão que pensa estar abandonada, até descobrir que ali vivem a ex-estrela do cinema mudo Norma Desmond (Gloria Swanson) e seu fiel empregado Max von Mayerling (Erich Von Stroheim). Ao descobrir a ocupação de seu visitante, Norma decide contratá-lo para revisar o roteiro que vem escrevendo há anos e que será seu grande retorno (nada de "volta", como ela mesma afirma) ao estrelato. O filme será dirigido pelo lendário Cecil B. DeMille. Gillis, a fim de unir o útil ao agradável (mais útil por causa de suas dívidas do que agradável) acaba aceitando a proposta e dá-se início a uma bizarra relação entre Norma e Gillis, com o empregado Max para fechar a trinca.

É dentro dessa história que Wilder vai realizar um filme imenso, que tem como uma de suas maiores forças o fato de ser também uma imensa contradição. A história da ex-dama do cinema mudo que vive esquecida pela mídia e pelo grande público - ficção que se confunde com a vida real, uma vez que a própria Swanson já participara de mais de 50 filmes e na época de Crepúsculo... estava praticamente esquecida - é apenas um dos "cutucões" nas feridas que existem no grande corpo de Hollywood. As diferenças de tratamento, o papel dos agentes, a relação dos estúdios com o lucro, o Star-System, enfim a grande aura de "negócios" que envolve TODO o universo Hollywoodiano é tratado ou citado em algum nível no filme. E a competência na realização de Crepúsculo dos Deuses fez do próprio filme um sucesso inquestionável e um símbolo da era de ouro de Hollywood.

Felizmente, isso é plenamente justificável ao se assistir a película e ver desfilarem a frente atores de extrema competência, encaixados numa mis-en-scène perfeita. Gloria Swanson é um monstro no papel de Norma, crescendo na tela a cada aparição e dizendo frases pontuais e certeiras, como aquela que se tornou uma das mais famosas do cinema "Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos". Os contrastes do preto-e-branco acentuados nas cenas de Gillis e Norma apenas potencializam a relação de caça e caçador que eles partilham ao longo do filme. A auto-referência se expande quando vemos em cena outras figuras decisivas na história do cinema como Buster Keaton, Hedda Hopper e o próprio DeMille, vivendo a si mesmo na tela. Além disso, o inusitado roteiro nos remete a obras não necessariamente literárias: o protagonista que se revela já defunto (e o vemos morto) no início do filme remete imediatamente ao excêntrico Brás Cubas, da obra de Machado de Assis; e influenciou a forma de personagens de consagradas produções recentes a contarem suas histórias, como o Lester Burham (Kevin Spacey) de Beleza Americana (1999).

O filme acaba se revelando um sofisticado exercício de metalinguagem, onde aponta o dedo para o próprio rosto e se denuncia diante do espectador, mas não deixa também de fazer a ação inversa e apontar o dedo em nossa direção. O ápice de toda a construção de Crepúsculo dos Deuses culmina num final arrebatador, onde os excessos parecem emergir de maneira natural e o absurdo faz todo o sentido com o que fora construído até ali. Mesmo a previsibilidade do desfecho não deixa de ser um interessante componente numa obra que se propôs desde o início a criticar a tradição do cinema. A cena de Norma descendo a escadaria e crescendo em nossa direção parece simbolizar um cinema feito em indústria, que nos engole por inteiro e nos sufoca, ditando a direção da maior parte da produção cultural do último século e de parte do início desse novo século. Mas assim como Gillis, seja por necessidade, preguiça ou pura conveniência, aceitamos essa imposição e, não há problema algum nisso, desde que estejamos a par daquilo que ingerimos e que nos responsabilizemos por eventuais efeitos colaterais, caso contrário, o antiácido talvez não ajude muito. ;-)