domingo, 14 de junho de 2009

Apenas o Fim


Matheus Souza tinha 19 anos quando decidiu fazer o longa Apenas o fim como trabalho para o curso de cinema da PUC-RIO. Levando a sua idéia a quem estivesse disposto a ouvi-lá, e com o apoio de uma professora-produtora Marisa Leão, uma verba de mais ou menos 4 mil reais concedida pela PUC, mais o dinheiro arrecadado em festas, com familiares, etc., os equipamentos da faculdade e o cenário praticamente pronto (a própria PUC), o diretor realizou um filme que, antes de qualquer coisa, parece ser um extremo exercício de tudo o que de essencial fez parte de sua formação, dos filmes a cultura pop que o cercou e, mais ainda, da nossa.
A qualidade principal do filme de Matheus Souza não está tanto na qualidade do seu filme, de sua história. Aliás, ela é bem simples. Certo dia, namorada linda-extrovertida-alegre, (Érika Mader) chega para o namorado meio nerd-geek-intelectual (Gregório Duvivier) e diz que vai embora, que já planejava isso a uns 4 meses e que eles só tem uma hora para passarem juntos. Apesar de um desconcerto inicial do namorado, eles acabam aceitando a situação e dão início a uma longa conversa sobre o seu relacionamento, seja no passado, no presente ou no futuro. Espera um pouco, isso parece Antes do Amanhecer do Richard Linklater! Parece. Parece filme do Woody Allen! Parece também. E não são só eles, parece com filme do Domingos Oliveira, do Michel Gondry (com direito a citação de frase de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) e de uma infinidade de diretores, a maioria do cinema alternativo.
Mas se as referências podem só ser reconhecidas em determinados e por determinados tipos de públicos, o mesmo não pode se dizer da maioria dos temas sobre os quais conversam que o casal, entre uma “DR” e outra. De Cavaleiros do Zodíaco à Britney Spears, de Star Wars à The Strokes, de Godard à Transformers, chegando à genial definição da tamanha representação dos Backstreet Boys (eles seriam praticamente Os Beatles das boy bands), Matheus escreveu um texto que fala DE e PARA toda a geração que nasceu em meados de 80 e cresceu nos anos 90 e 00, numa avalanche assustadora de referencias. É impressionante, pois mesmo que alguém não entenda a citação a Godard por não conhecê-lo, no mínimo ele vai saber quem era a Britney Spears ou o Shiryu. Ninguém fica de fora.
Apenas o Fim chegou timidamente aos festivais no fim do ano passado, onde começou o burburinho ao seu redor. E essa “modesta” participação inclui os prêmios de Melhor filme do Júri Popular & Menção Honrosa do Júri Oficial no Festival do Rio 2008 e Melhor filme do Júri Popular na 32ª Mostra Internacional de São Paulo, além de ter sido selecionado para o Festival Internacional de Rotterdam (IFFR); Festival Internacional de Miami (Competição Ibero-Americana); Festival Off Câmera, em Krakow, Polônia; Festival de Cinema Brasileiro em Paris, França; Premiere Brazil, no MoMA, Nova Iorque.
Muito além de seus problemas técnicos (e eles estão lá) e narrativos (a história arrasta um pouco depois da metade), Apenas o Fim tem dois méritos essenciais: fala para toda uma geração (eu mesmo estou incluso nela) de alguém que ainda está dentro dela, ao invés de um olhar para o passado como geralmente encontramos. A própria crítica reconhece esse fato e, apesar de nem sempre entender as citações (principalmente os críticos da velha guarda), todos souberam muito bem entender que a mensagem que eles captariam, acima de tudo, seria que ali residia força de juventude. A segunda é a ousadia de Matheus Souza de realizar seu longa, e exatamente do jeito que gostaria, falando daquilo que entendia melhor e com o material que tinha em mãos. Falou do jeito que queria, a todos nós, a todos que, como ele, cresceram nas duas últimas décadas e chegaram a casa dos vinte, vinte e poucos anos.
Com tantas dificuldades na realização de filmes atualmente no Brasil, e com as possibilidades do digital, que este seja “apenas o começo”, para todos nós que amamos o cinema.

 

2 comentários:

  1. Falta de recursos não é mais (nunca foi?) desculpa para criar algo q possa ser admirado.

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  2. A linguagem e o estilão meio teatralizado são os grandes baratos deste filme. Estava quase convencido de que a violência era a única temática possível para os fimes brasileiros (Cidade de Deus, Tropa de Elite, Era uma vez..., Última parada 174, etc).

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