terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Juventude

juventude-poster01


Aparte os vários temas abordados nos textos do último post, destaco agora um triste fato: pouquíssimas pessoas assistiram ao filme Juventude, produção mais recente do cineasta Domingos de Oliveira (dos filmes Todas as Mulheres do Mundo, A Culpa, Carreiras, entre outros).


Juventude mostra o encontro de três amigos na casa dos setenta anos, David (Paulo José), Ulisses (Aderbal Freire Filho) e Antônio (o próprio Domingos) durante um fim de semana (ou talvez, apenas um dia desse fim-de-semana, essa passagem do tempo ficou um pouco confusa para mim) na casa de David.


Há espaço suficiente para a galhofa entre os amigos, para cada um contar a história de um grande amor, para relembrar o passado, para se arrepender dos erros e, com algum custo, para olhar para o tempo que ainda lhes resta pela frente.


O texto é de uma incrível beleza, só tendo podido mesmo ter sido escrito por um artista que viveu a vida intensamente e a dedicou a arte e a busca por sentimentos de prazer e alegria, nas melhores formas que poderiam ocorrer tal busca. Penso na dificuldade que seria para um roteirista mais jovem escrever um texto com tamanha carga de experiências vividas nas costas e com uma franqueza visceral (claro que existem casos bem sucedidos desse tipo de empreitada). Os três atores dominam suas cenas, e, já gigantes naturalmente, crescem ainda mais quando a dinâmica da cena envolve os três ao mesmo tempo. Bonito ver o encontro de Paulo José e Domingos de Oliveira, mais de quarenta anos depois do filme de estréia do cineasta, o ótimo Todas as Mulheres do Mundo (1966) com Paulo José como o protagonista.


Sem dúvida há certo ar de nostalgia que permeia o filme, mais por parte de seus protagonistas que do espectador, que consegue sentir esse sentimento de maneira menos aflitiva, quase que a apreciando por ser ela o combustível para as ações e revelações dos personagens, e sabemos que quanto mais lembranças eles tiveram, mais fortes serão as conseqüências de suas auto-analises. A bonita-tristeza que envolve os homens com a velhice e uma maturidade, enfim, consciente, é a força motor desse filme simbólico desde o seu título, Juventude.


O filme é todo gravado em câmera digital e por isso, eventualmente podem ser percebidos problemas no som ou na luz da locação. Mas são problemas essencialmente técnicos, e que em momento algum prejudicam o desenvolvimento do filme, que se preocupa mesmo com o texto e com o aspecto humano de seus personagens. E se por vezes a técnica digital é falha, talvez possamos pensar que ela age aqui como seus personagens, velhos e novos ao mesmo tempo em carne e espírito, com falhas, porque são humanos, demasiado humanos.


Quando fui procurar os horários e locais onde passavam o filme a algumas semanas, encontrei-o apenas em uma sala de cinema. Se não me engano, ele estreou com talvez uma ou duas salas a mais que esse número. Uma pena, pois o filme do cineasta, ator e dramaturgo Domingos de Oliveira é de uma beleza triste e madura, uma pequena peça de experiências de vida a ser dividida com um público que, infelizmente, não pôde apreciá-la.


juventude02






Nenhum comentário:

Postar um comentário