terça-feira, 28 de outubro de 2008

Em Paris



Paul (Romain Duris) está deprimido. De volta à casa do pai, ele sofre com a fim de seu relacionamento com uma moça. Jonathan (Louis Garrel), seu irmão mais jovem, passa do dia experimentando as “emoções” que lhe cruzam o caminho ao mesmo tempo em que tenta trazer o irmão de volta a vida normal. Em meio a tudo isso o pai dos dois, que nada pode fazer quanto à vida dos filhos.


Basicamente, essa é a trama de Em Paris (Dans Paris), novo filme de Christophe Honoré, que esteve em cartaz há algum tempo nos cinemas.


Disse basicamente, mas poderia dizer que é só isso o que acontece no filme. Nenhuma reflexão profunda, nenhuma moral da história, nenhuma análise a respeito das paixões humanas, nada disso, mesmo que, no início, possamos ser levados a pensar que alguns desses itens venham acontecer.


Na impossibilidade de ser a figura central da história, Jonathan, no início do filme, toma para si o papel de narrador. Sim, ele fala com o público. Um interessante artifício, mas que perde suas possibilidades no decorrer do filme. Somos apresentados a Paul e presenciamos seus últimos momentos com a namorada, aqueles momentos onde o casal parece saber sobre o inevitável, mas luta desesperadamente tentando sustentar as colunas e vigas de um teto que não suportará por muito tempo.


Logo estaremos assistindo a cenas familiares a todos os que já passaram pelo processo da separação, como ficar deitado o dia inteiro com as mesmas roupas, falta de apetite, poucas palavras e, porque não, uma ou outra vontadezinha de acabar logo com tudo. Jonathan tenta alegrar o irmão, fazê-lo sair de casa para que se encontrem em um local referente à sua infância, mas chega a ser engraçado o número de distrações que encontra pelo caminho. Paul faz o típico intelectual rejeitado enquanto Jonathan, muito mais pelo que parece ser uma escolha de vida do que uma característica sua, vive uma autêntica despreocupação. O pai dos dois tenta ora ou outra fazer diferença na vida dos filhos, mas sabe bem que não pode fazer nada a não ser assistir às escolhas que os dois fazem de suas vidas.


O filme de Honoré tem bons momentos. A bela fotografia apenas realça a beleza da Paris de Jonathan (se bem que filmar em Paris já é um baita passo para se fazer um filme esteticamente bonito) e contrasta com a escuridão do apartamento onde Paul passa a maior parte do tempo. Falar das difíceis relações humanas é sempre interessante, o que cria um interesse maior do espectador pelo personagem de Paul (apesar da presença sempre cativante de Jonathan). O bom elenco faz um trabalho coeso.


O “contudo” fica na escolha do como contar tudo isso. Parece que o roteiro quer contar coisas demais para um dia só, o que acaba levando o filme a uma conclusão rápida e forçada. Os irmãos passam a maior parte do filme separados e em dinâmicas de vida opostas, o que faz com que a premissa do filme perca seu sentido em alguns momentos. O mesmo acontece na escolha do que contar. Não foi possível desenvolver em noventa e poucos minutos temas como amor, desilusão, família, redenção (e existem outros filmes que conseguiram cumprir tal tarefa com mérito). Além disso, Honoré, nos momentos em que se utiliza de alguns artifícios, como a conversa de Jonathan com o espectador e seus pontos-de-vista, faz as coisas destoarem e perderem-se em inúteis exercícios estéticos. Fico pensando qual seria o verdadeiro motivo de utilizar o ator Louis Garrel na produção. Visto em filmes recentes como Os Sonhadores e Amantes Constantes, não consegui entender direito a intenção do personagem de Garrel “quebrando” a estrutura da ficção e ainda por cima (e isso é uma interpretação pessoal) dialogando com o próprio cinema - na cena em que aparece na frente de dois cartazes, um de The Last Days, filme de Gus Van Sant com Michael Pitt, com quem Garrel trabalhou em Os Sonhadores e Marcas da Violência, de David Cronenberg, uma das produções que mais se difere da cinegrafia do cineasta e uma das que mais obteve sucesso também. Poderia fazer algum sentido se fosse essa a proposta original do filme, o que não me pareceu ser.


Como estudante, sou totalmente a favor das experimentações dentro da estrutura da narrativa e da linguagem cinematográfica e, apesar de conhecer pouco da obra do diretor, sei que o mesmo tem repertório suficiente para isso, mas acho que algo deu errado no experimento dessa vez. Ele utilizou demais onde, provavelmente, o menos se encaixaria melhor. Suas intenções foram maiores do que seu produto.



O dispensável anticlímax do filme deixa a mesma sensação incômoda do fim de um relacionamento e um dos pensamentos que a isso sucede: o de que as coisas (e nesse caso, o filme) poderiam ter sido diferente. Melhores? ;-)

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