Há algumas semanas, o site da Revista Bravo! publicou um artigo a respeito de uma nova leva de cineastas que têm surgido, mais ou menos no mesmo período. A reportagem exaltava os realizadores, comparando-os aos cineastas da Nouvelle Vague, movimento do cinema francês da virada da década de 50 para 60, que influenciou de uma ou outra maneira várias gerações posteriores e que tinha em seu plantel principal François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Eric Rohmer e Jacques Rivette.
Contudo, qual não foi meu espanto em, ao navegar pelo site Cinética, o qual costumo "frequentar", não encontro uma resposta assinada por Cléber Eduardo e Eduardo Valente à Bravo! que corrigi "alguns" erros cometidos na reportagem.
Por hora, reproduzo o texto da Bravo! (e peço a todos para seguirem o link para conferir as imagens) e a seguir a resposta dos editores da Cinética, mas adianto que é um assunto de extrema importância, principalmente para jornalistas e "aspirantes a".
Texto da Bravo!.
Nouvelle Vague Brasileira
Uma geração de jovens diretores renova a maneira de fazer filmes no país ao se espelhar nos cineastas franceses que começaram como críticos na revista “Cahiers du Cinéma”, nos anos 60
Por Caroline Rodrigues
Jean-Luc Godard disse certa vez que filmava para escrever e escrevia para filmar. A frase do diretor francês se explica: antes de criarem a Nouvelle Vague ("nova onda"), cineastas como François Truffaut, Eric Rohmer, Claude Chabrol e Alain Resnais, além do próprio Godard, eram críticos da revista Cahiers du Cinéma. A revolução promovida pelo movimento, surgido em 1959 com a estreia do filme Os Incompreendidos, de Truffaut, deriva, em grande parte, da origem de seus integrantes: para o grupo, era urgente vincular pensamento à imagem cinematográfica, de modo a subverter as regras da indústria do cinema e da narrativa clássica. Na Nouvelle Vague, as imagens são reflexivas.
Cinquenta anos depois, algo semelhante ocorre no Brasil. Críticos das revistas virtuais Contracampo e Cinética, oriundos da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Rio de Janeiro, começam a desenhar uma geração do cinema brasileiro. Nomes como Eduardo Valente, Cléber Eduardo, Ilana Feldman, Daniel Caetano, Luiz Carlos Oliveira Jr. e Felipe Bragança. Na definição de Valente, eles fazem parte da "missão carioca", que tem como características a defesa das produções de baixo orçamento, o experimentalismo de linguagem e a criação coletiva. Ao mesmo tempo em que refletem sobre quase toda a produção mundial — estrangeiros, independentes ou vinculados à indústria —, procuram colocar suas ideias em prática, por trás das câmeras, algo próximo ao que fizeram os franceses.
Essa história começa em 2000, quando Eduardo Valente, professor de cinema da UFF, convidou o aluno Felipe Bragança para escrever na Contracampo, criada por ele, Valente, e pelo jornalista e pesquisador Ruy Garnier em 1998. Era um projeto pequeno, com a intenção de transformar uma "paixão pelo cinema" em textos críticos de ponta. Contando com recursos do Fundo Nacional de Cultura do MinC, a revista defende o cinema que não se submete às regras e à linguagem do mundo comercial. A crítica independente também se caracterizaria dessa forma, disponibilizando online uma vasta reflexão sobre cinema.
A amizade e o trabalho conjunto conduziram o professor e o ex-aluno ao set de filmagem. Felipe (como roteirista) e Valente (como diretor) fizeram os curtas-metragens Um Sol Alaranjado (2001) e Castanho (2002). O primeiro foi considerado o melhor curta-metragem no Festival de Cannes de 2002. O prêmio foi um estímulo à realização de um longa-metragem e a garantia da estreia na França. Foi o que aconteceu no mês passado, em Cannes, que exibiu No Meu Lugar (2009), com direção de Valente e roteiro de Felipe. O filme vai estrear no Brasil em julho.
Considerando-se mais crítico do que cineasta, Valente diz que o filme nasceu de um desejo de falar algo íntimo e coletivo ao mesmo tempo: sua relação com o Rio de Janeiro, onde nasceu e vive até hoje. Seria uma forma de expor e se contrapor às visões do Rio estabelecidas no cinema de cinco anos para cá — que mostram uma cidade em guerra entre traficantes e policiais —, assunto amplamente comentado em seus textos. Partindo dessa temática, mas tentando mudar o foco, No Meu Lugar retrata o enlaçamento de personagens a partir da montagem de três tempos diferentes, na história de um trágico encontro entre um policial, um assaltante e seu refém, resultando na morte deste.
Felipe também acaba de estrear um longa como diretor, A Fuga da Mulher Gorila (2009), feito em parceria com Marina Meliande, outra ex-aluna da UFF. Em janeiro deste ano, o filme ganhou o prêmio do Júri da Crítica da Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. A produção se pautou em um processo criativo muito curioso: a equipe conviveu por oito dias dentro de uma Kombi — casa e veículo da personagem mulher gorila e sua assistente. O filme, uma espécie de road movie sobre o subdesenvolvimento dessa arte performática meio circense, reflete o apreço pelo "cine-guerrilha", de baixíssimo orçamento e ousadia na linguagem, que Felipe defendeu em muitos textos de crítica.
Em 2006, Valente e Felipe trocaram a Contracampo pela Cinética, outra revista virtual que milita em defesa da produção independente, mas de forma menos acadêmica, com entrevistas com diretores antes do lançamento de seus filmes no circuito, agenda de cinema e cobertura de festivais, mesmo os grandes como o de Cannes — neste ano, feita por Eduardo Valente. Para a Cinética também foi, na ocasião, o casal Cléber Eduardo e Ilana Feldman, críticos que são parceiros de criação cinematográfica: ambos codirigiram os curtas Almas Passantes (2008) e Rosa e Benjamin (2009). Sobre a parceria, Ilana comenta: "É um exercício de diálogo, de negociação e de aprendizagem fantástico, além de tornar a criação e a reflexão territórios menos solitários".
Na Contracampo, a saída de Valente e Felipe foi compensada em parte pela chegada de Luiz Carlos Oliveira Jr., outro estudante da UFF. Em um polêmico texto publicado em março de 2009, A Publicidade Venceu, ele cobrou responsabilidade dos críticos com a formação de cinematografias mais artísticas e menos publicitárias, pedindo um papel mais ativo de quem reflete sobre cinema. "A diferença entre uma atividade e outra (o mero debate e a crítica responsável), assim como a diferença entre o cinema e a publicidade, é o que precisa urgentemente ser resgatado", diz no texto. Com esse posicionamento, dirigiu um curta-metragem, O Dia em que não Matei Bertrand (2008), baseado em um conto de seu escritor favorito, Sérgio Sant'Anna.
A QUESTÃO DA AUTORIA Na UFF também surgiu Conceição — Autor Bom É Autor Morto (2007), dirigido por cinco alunos, entre eles Daniel Caetano, crítico tanto da Contracampo quanto da Cinética. Produção coletiva, o filme questiona a ideia tradicional de autoria no cinema, não só na forma de criação, mas também pela temática: as personagens, enfurecidas com seus autores representados na narrativa, os matam no bar onde tomam a fictícia cerveja Conceição, passando a inventar suas trajetórias.
Essa questão da autoria começou, justamente, na Nouvelle Vague, como forma de afirmar diretores que desejavam fazer cinema como expressão artística, fossem contemporâneos ao movimento ou mais antigos, pertencentes à indústria do cinema ou independentes. Criou-se na Cahiers du Cinéma a "política dos autores", uma estratégia cujos efeitos foram distorcidos mundo afora, fato admitido na década de 1980 pelos próprios críticos da revista. A distorção corresponde às tentativas de enquadrar, até hoje, o que seria um cinema de autor.
Eduardo Valente prefere o termo "cinema como arte", a fim de tirar a discussão do campo intelectual e transportá-la ao "lugar da paixão", que é, segundo ele, o que realmente interessa. Fazer cinema é, no caso do grupo carioca, um encontro entre amigos, Eduardo Valente e Felipe Bragança; entre um casal, Cléber Eduardo e Ilana Feldman; entre colegas de faculdade, Daniel Caetano e Luiz Carlos Oliveira Jr., que realizaram seus filmes com a participação da turma da UFF, codirigindo com Guilherme Sarmiento, André Sampaio, Cynthia Sims, Samantha Ribeiro e Ives Rosenfeld.
O que se pode notar, para além da autoria, são os diálogos entre textos e filmes. De Eduardo Valente destaca-se a busca incansável por virtudes nas atitudes humanas, não por falhas. Em cada filme que critica, ele procura um ponto para levar uma questão adiante; nenhum filme é perdido. Em seus curtas, gestos de afeto são destacados, como, por exemplo, em Um Sol Alaranjado, em que se veem os cuidados de uma mulher para com o pai doente. Felipe Bragança, por sua vez, transmite sua militância escrita pelo cinema jovem e independente para seu modo barato de produção, o "cinema de guerrilha".
O filme de Luiz Carlos baseado no conto de Sérgio Sant'Anna se destaca por câmeras estáticas e de longa duração, na observação aflitiva de um homem que se prepara para matar outro. Trata-se de um enquadramento que dialoga com o olhar do crítico, preciso e silencioso para observar cada detalhe do que se passa na cena, que, pela longa duração, se explicita em cada canto. Essa estética pode também ser encontrada nos curtas de Valente, no longa de Felipe e em Rosa e Benjamin, de Cléber e Ilana. Neste último, o casal de diretores cria outro casal, a ser observado na intimidade da rotina doméstica.
Cada um a seu modo, nos diferentes textos e filmes, esses críticos-cineastas são grandes estimuladores da produção experimental jovem e consolidam esse estímulo também por meio da participação em festivais, cineclubes e mostras, principalmente a de Tiradentes, da qual Valente, Cléber e Luiz Carlos são curadores. Todos eles, além disso, ou dão aulas em cursos de cinema ou fazem pós-graduação na área.
Assim, a paixão pelo cinema que a "missão carioca" cultiva equivale ao sentimento transformador dos participantes da Nouvelle Vague francesa. A cinefilia atua em suas vidas como combustível para expandir, cada vez mais, a reflexão em veículo de acesso gratuito, a exibição fora de circuito tradicional e a produção independente.
Resposta dos diretores
Nouvelle Vague Brasileira: Onde, quem, quando?
Na reportagem da Bravo, a enunciação se torna enunciado
por Cléber Eduardo e Eduardo Valente
Idéias só podem ser expressas em forma de idéias. Nos meios de comunicação, regidos, segundo Gilles Deleuze, pela reivindicação imperativa da crença em palavras e imagens como a verdade sobre algo, não existem idéias. Só há palavras de ordem clamando por crença. Deveríamos saber disso quando uma parte dos integrantes de Cinética aceitou ser transformada em personagem da revista Bravo. Pauta: os críticos cineastas.
Em uma reportagem sobre alguns desses críticos, a revista classifica o grupo como “Nouvelle Vague Brasileira”. Para justificar a analogia, comete-se erros não de idéias, mas de informações mesmo: falsas objetividades, com sentidos diversos. Afirma-se que Eduardo Valente foi professor de Felipe Bragança na UFF, quando sequer é (ou foi) professor nesta universidade. Ou que Daniel Caetano é "parceiro de trabalho nos sets" de Luiz Carlos Oliveira Jr, o que nunca ocorreu. E, se Cléber Eduardo e Ilana Feldman formam um casal, eles não se conheceram na UFF – onde Cléber nunca estudou, ao contrário do suposto pela Bravo. Trata-se de ficções nada baseadas em casos reais, jamais referidas na apuração pelos entrevistados. Logo entendemos que são relações criadas a fórceps para que a pauta faça sentido. Da mesma forma, é curioso que a matéria afirme uma "missão carioca", quando três dos seis entrevistados não só moram, como foram fotografados e entrevistados em São Paulo. Se Luiz Carlos e Ilana são cariocas de origem, Cléber é tão paulistano quanto se pode ser – ainda que, sabe-se lá como, seja botafoguense. Haveria vários outros exemplos a listar, mas fiquemos só com os mais gritantes.
Os erros de informação não ficam restritos, porém, ao nível biográfico de cada personagem da reportagem, e se aprofundam no nível das informações históricas. Alain Resnais é definido como parte da ala da Nouvelle Vague/Cahiers du Cinéma (a vertente dos críticos-cineastas), quando não exerceu atividade como crítico militante e, se pode ser considerado parte da cena da NV, não era próximo do mesmo grupo formado na revista. A reportagem parece ter confundido Resnais com Jacques Rivette, talvez o mais sólido dos críticos dessa geração e dos Cahiers nos anos 50-60, embora o menos conhecido pelo senso comum – mesmo o senso com lustro, como é o caso da Bravo. Da mesma forma, Agnès Varda, também contemporânea da Nouvelle Vague, nunca foi parte de deu núcleo duro, caso da turma dos Cahiers.
Não obstante os equívocos originais sobre quem são de fato os membros de cada grupo e como se dão suas relações, talvez a maior distorção venha mesmo da junção entre as partes. Na matéria, cada um dos personagens da reportagem aparece com um quadro onde se vê o rosto de um cineasta da Nouvelle Vague, como se cada cineasta francês nas mãos dos críticos brasileiros fosse seu ídolo, ou modelo a seguir; seus patronos ou paraninfos espirituais, digamos assim. No entanto, os personagens brasileiros da matéria, ao contrário da aparência criada pela enunciação (textos + fotos), não escolheram esses cineastas para segurar em suas mãos e, talvez, nem tenham intimidade maior com esses artistas – ao menos enquanto modelos, como imagens de determinadas “idéias e ideais” de cinema e crítica. Ao contrário: quando solicitados a segurar uma superfície transparente na sessão de fotos para a Bravo, foram informados textualmente que, naquele espaço quadrado, seriam projetadas imagens oriundas de seus próprios filmes. Nunca se falou numa centralidade da relação com a Nouvelle Vague – jamais no processo das fotos, mas também não na apuração, onde o movimento francês foi citado longinquamente. A pauta versaria sobre a especificidade dos filmes dirigidos pelos críticos, e da convivência num mesmo grupo entre diferentes atividades (crítica, realização, etc) do escopo cinematográfico.
Não sejamos puristas. É óbvia a possível aproximação acrítica entre um grupo de conhecidos que são críticos e realizadores de curtas ou longas e a liderança da Nouvelle Vague. Talvez haja o compartilhamento de uma idéia entre as partes – a do cinema como campo de reflexão e de expressão em sua forma crítica e por meio dos filmes -, mas para se chegar a uma justaposição trans-histórica, em nome de um slogan (Nouvelle Vague Brasileira), sem fundamentação possível, é preciso ignorar um abismo de diferenças de contexto nesse passo. Tanto a atuação dos críticos dos Cahiers nos anos 50 quanto seus filmes na Nouvelle Vague são especificidades de uma dada contingência histórica e cultural, na crítica e na realização, na França daquele pós-guerra, sem nenhum tipo de aproximação com as contingências, os ânimos e as ambições dos críticos e realizadores retratados na Bravo. Os franceses queriam reconfigurar o cinema francês dos anos 50 – e conseguiram em grande parte nos anos 60. Os críticos brasileiros que posam na foto da Bravo, nem isoladamente, nem como grupo, têm essa pretensão (ou as condições para exercê-la, se a tivessem).
Talvez nossas atividades sejam estreitas demais como alcance para figurar nas páginas da Bravo. Para justificar nossa presença lá, é preciso dar uma importância maior às nossas ações, nos classificar com um rótulo ao mesmo tempo nobre e banalizador – não apenas para a Nouvelle Vague, mas também para o grupo que, supostamente beneficiado com a etiqueta, acaba em um papel um tanto patético: o de uma turma de cinéfilos que se acha o próprio cinema. Menos, menos.
Para quem se relaciona com enunciações como sendo enunciados, o título de Nouvelle Vague Brasileira e as fotos dos cineastas nas mãos são mais que enunciações. Como efeito, são os próprios enunciados da reportagem. Para entendedor da comunicação, nós nos consideramos a NV versão BR, a NVBR, e nós nos comparamos aos cineastas das fotos. Eduardo Valente se acha Godard, Felipe Bragança se espelha em Truffaut, Daniel Caetano se considera Varda, Ilana Feldman tem parte com Chabrol, Cléber Eduardo ambiciona ser Resnais e o contracampista Luiz Carlos Oliveira é o próprio Rohmer. A enunciação que se torna enunciado.
Diante dessa lógica da comunicação, não das idéias, as citadas deformações no nível biográfico são de prejuízo menor. O que se torna uma questão, a ser colocada de forma direta, é uma outra coisa, anterior aos erros e aos equívocos: por que, afinal, aceitamos estar na Bravo? Para tentar expressar uma idéia em um espaço regido pelo imperativo da comunicação. Uma idéia de como agimos, como pensamos a crítica, o cinema, enfim, uma idéia de como nos pensamos. Para quê? Para ganhar visibilidade em um espaço com algum nível de legitimação, mesmo se um nível questionado por nós mesmos? Para fazer o quê com essa visibilidade e com essa suposta legitimidade? Haveria pragmatismo crítico nisso? Supondo que sim, outra pergunta: fazer o quê com essa rentabilidade da visibilidade? Que rentabilidade é essa? A que nos serve? Como nos serve?
Não podemos deixar de nos colocar essas perguntas se queremos de fato lidar com os efeitos das imagens. As imagens de nossas ações e de nossas idéias não são nossas ações e nossas idéias. São imagens. Elas dizem mais respeito a quem as veicula do que diz respeito a quem está supostamente veiculado. Quando somos imagens da Bravo, somos da Bravo, somos a própria Bravo. Não somos nossas imagens, nem as imagens são nossas, e isso não pode ser ignorado. Por nós mesmos, em primeiro lugar.
Essa notícia chega um pouco atrasada, mas ainda dá tempo de dar uma conferida. Acontece o I SP Terror - Festival Internacional de Cinema Fantástico.
Investindo no cinema de gênero, aqui mais especificamente, no fantástico e no terror, o festival é uma boa pedida para fugir daqueles de mais de produções mais "sérias" que acontecem durante o ano.
As produções vão de "trasheiras" de ótima qualidade como o nacional "Mangue Negro" até produções que já deram o que falar nos festivais do exterior como o sueco "Deixe Ela Entrar".
Muitas valem também pelos criativos títulos, como "Yoroi: o Zumbi Samurai", "Sex Galaxy", "Curtas Crypt Show" e o vencedor "Matadores de Vampiras Lésbicas".
O festival acontece até o dia 2 na Reserva Cultural e você encontra mais informações aqui.
A seguir você confere alguns trailers e imagens das produções. A todos os que se aventurarem, um ótimo divertimento.
Matheus Souza tinha 19 anos quando decidiu fazer o longa Apenas o fim como trabalho para o curso de cinema da PUC-RIO. Levando a sua idéia a quem estivesse disposto a ouvi-lá, e com o apoio de uma professora-produtora Marisa Leão, uma verba de mais ou menos 4 mil reais concedida pela PUC, mais o dinheiro arrecadado em festas, com familiares, etc., os equipamentos da faculdade e o cenário praticamente pronto (a própria PUC), o diretor realizou um filme que, antes de qualquer coisa, parece ser um extremo exercício de tudo o que de essencial fez parte de sua formação, dos filmes a cultura pop que o cercou e, mais ainda, da nossa.
A qualidade principal do filme de Matheus Souza não está tanto na qualidade do seu filme, de sua história. Aliás, ela é bem simples. Certo dia, namorada linda-extrovertida-alegre, (Érika Mader) chega para o namorado meio nerd-geek-intelectual (Gregório Duvivier) e diz que vai embora, que já planejava isso a uns 4 meses e que eles só tem uma hora para passarem juntos. Apesar de um desconcerto inicial do namorado, eles acabam aceitando a situação e dão início a uma longa conversa sobre o seu relacionamento, seja no passado, no presente ou no futuro. Espera um pouco, isso parece Antes do Amanhecer do Richard Linklater! Parece. Parece filme do Woody Allen! Parece também. E não são só eles, parece com filme do Domingos Oliveira, do Michel Gondry (com direito a citação de frase de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) e de uma infinidade de diretores, a maioria do cinema alternativo.
Mas se as referências podem só ser reconhecidas em determinados e por determinados tipos de públicos, o mesmo não pode se dizer da maioria dos temas sobre os quais conversam que o casal, entre uma “DR” e outra. De Cavaleiros do Zodíaco à Britney Spears, de Star Wars à The Strokes, de Godard à Transformers, chegando à genial definição da tamanha representação dos Backstreet Boys (eles seriam praticamente Os Beatles das boy bands), Matheus escreveu um texto que fala DE e PARA toda a geração que nasceu em meados de 80 e cresceu nos anos 90 e 00, numa avalanche assustadora de referencias. É impressionante, pois mesmo que alguém não entenda a citação a Godard por não conhecê-lo, no mínimo ele vai saber quem era a Britney Spears ou o Shiryu. Ninguém fica de fora.
Apenas o Fim chegou timidamente aos festivais no fim do ano passado, onde começou o burburinho ao seu redor. E essa “modesta” participação inclui os prêmios de Melhor filme do Júri Popular & Menção Honrosa do Júri Oficial no Festival do Rio 2008 e Melhor filme do Júri Popular na 32ª Mostra Internacional de São Paulo, além de ter sido selecionado para o Festival Internacional de Rotterdam (IFFR); Festival Internacional de Miami (Competição Ibero-Americana); Festival Off Câmera, em Krakow, Polônia; Festival de Cinema Brasileiro em Paris, França; Premiere Brazil, no MoMA, Nova Iorque.
Muito além de seus problemas técnicos (e eles estão lá) e narrativos (a história arrasta um pouco depois da metade), Apenas o Fim tem dois méritos essenciais: fala para toda uma geração (eu mesmo estou incluso nela) de alguém que ainda está dentro dela, ao invés de um olhar para o passado como geralmente encontramos. A própria crítica reconhece esse fato e, apesar de nem sempre entender as citações (principalmente os críticos da velha guarda), todos souberam muito bem entender que a mensagem que eles captariam, acima de tudo, seria que ali residia força de juventude. A segunda é a ousadia de Matheus Souza de realizar seu longa, e exatamente do jeito que gostaria, falando daquilo que entendia melhor e com o material que tinha em mãos. Falou do jeito que queria, a todos nós, a todos que, como ele, cresceram nas duas últimas décadas e chegaram a casa dos vinte, vinte e poucos anos.
Com tantas dificuldades na realização de filmes atualmente no Brasil, e com as possibilidades do digital, que este seja “apenas o começo”, para todos nós que amamos o cinema.
No último sábado (30/05), aconteceu a re-inauguração do Cine Marabá, último dos integrantes da Cinelândia clássica do Centro de São Paulo, nos arredores do Largo Paissandu, fechado a quase 20 meses devido às reformas.
O projeto de restauração que o arquiteto Ruy Ohtake começou a desenvolver em 1999 preservou a fachada e o saguão principal, pois o edifício do Marabá é tombado, e tais estruturas não podem ser retiradas, no máximo, restauradas. Mas isso é só o que sobrou do Marabá que freqüentei assiduamente entre 2002 e 2005.
Transformado num Multiplex da Playarte, a antiga sala única de 1665 lugares deu lugar a cinco ambientes (salas), a maior com pouco mais de 400 lugares, e a menor com 122.
Ao entrar no local para fazer algumas gravações (coincidentemente, estou gravando um documentário sobre as velhas salas de cinema do Centro), uma mistura de estranheza e nostalgia tomou conta de mim enquanto eu me escondia por trás da câmera. O saguão principal era bem parecido, mas estava reformado, mais claro, com uma bombonière bem mais brilhante do que eu me lembrava. Agora há ali também as bilheterias com telas LCD mostrando a programação. A escadaria que dava acesso ao andar de cima, antes fechado, foi reaberta, e também mantém parte do aspecto original. E só.
Basta passar o saguão principal que adentramos por corredores mais escuros e coloridos. Faixas de cor lilás, verde, vermelho, nos levam em direção às salas. Paredes espelhadas divertem as crianças. Pequenos sofás de couro preto estão espalhados por alguns cantos. Escadas que descem para salas no nível inferior. Além disso, mais uma bomboniere que muito me lembrou as que encontramos nos Multiplex dos Shoppings.
Pudemos entrar em uma sala. Poltronas vermelhas, reclináveis e confortáveis. Paredes cobertas por um pano vermelho. Luzes amarelas em lustres finos que se assemelham a quadros. Um estilo um pouco diferente, mas nada que fuja dos padrões Cinemark ou UCI.
Difícil não me recordar da sala antiga. As poltronas pretas, feitas de um tecido fino e fofo, mas já tão gastos que em muitas era possível sentir a madeira da cadeira. A grande maioria apresentava algum rasgo. As caixas de som eram horríveis. Entendia-se um filme porque, ao ler a legenda, nosso cérebro “fingia” entender também o que falavam os personagens, mas se o filme fosse dublado... Lembro-me que a inclinação não funcionava mais tão bem e, ou se deitava na cadeira para ver o filme, ou se passava a sessão toda com a cabeça levantada, e arriscava uma possível dor de pescoço. A tela era bem grande. E o teto também. Descascando, com grandes manchas de infiltração e alguns fios pendurados, não deixava de ser uma imagem majestosa deitar-se nas poltronas e simplesmente ficar olhando para cima, para o teto infinito, enquanto o filme não começava. Havia um banheiro no qual, para se chegar, atravessava-se um caminho por trás da tela. A porta era no lado direito do ecrã. Sem luz, subia-se as escadas, passava-se por um portão cheio de tábuas e correntes, subia-se mais um pouco por uma escada que ia afinando, até chegar ao banheiro, completamente vazio. Era lindo de tão assustador que era. Mas estava abandonado. A maioria dos espectadores eram pessoas buscando algum refúgio de uma hora e meia. Lugar perfeito para jovens (como eu na época) acharem-se aventureiros daquele local que, de tão decadente, tornara-se tão exótico.
Quando a sala fechou, fiquei tão triste quanto quando fecharam o Ipiranga, ali, do outro lado da rua. Não tinha muitas esperanças de que ele fosse reaberto. Mas ele foi, como um Multiplex. Fica a questão de que até que ponto esse é uma alternativa válida. Dizem que o Cinemark há anos tem projeto semelhante para majestoso Cine Marrocos. Não sei, pensar nesses cinemas, na Cinelândia, é pensar numa experiência, numa vivencia de cinema que não existe mais a não ser na memória daqueles que puderam desfrutar dessa sensação. Eu mesmo, talvez, jamais saiba como seria assistir a um filme numa sala de mais de 1500 lugares lotada.
Em 1956, as salas de cinema levavam um público de mais de 58 milhões de espectadores. Só na Cinelândia, eram mais ou menos 20 salas de cinema.
Hoje em dia isso pode parecer um absurdo, mas já foi a realidade.
O Marabá está aberto novamente. Uma memória trazida de volta a vida. Resta saber o que fazer com as outras salas que ainda não se tornaram cinemas pornôs, igreja ou estacionamento, e que se encontram fechadas há anos. São anacronismos espaciais. Muitas estão lá, podemos vê-las, mas estão mortas também, perdem-se no meio do cenário, sem brilho, sem vida, distribuindo luz apenas na memória dos poucos que viram seus dias de ouro.
Ainda sobre o Festival de Cannes, que terminou nesse domingo com a Palma de Ouro indo para Das Weisse Band, de Michel Haneke, ficam os trailers de alguns do filmes do festival. A pergunta agora é quantos deles chegarão em terras tupiniquins.
Acontece até o próximo dia 24 de maio, na riviera francesa, a 62ª Edição do Festival de Cannes. Cenário deslumbrante, tradição e a "nata" do cinema mundial. Diferente da desconfiança e picaretagem que cercam o Oscar (e um glamour mais nobre e menos afetado), Cannes tem tradição de ser o festival que melhor representa o cinema dito de arte. São figuras carimbadas por lá diretores de diferentes nacionalidades e que costumam frequentar os maiores festivais de cinema do mundo.
Especialmente nesse, não há muito espaço para novatos. Estão lá Ken Loach com seu "À Procura de Eric", estrelado pelo ex-craque do Manchester United Eric Cantona, Park Chan-Wook (que já ganhou por Oldboy) com seu filme sobre um padre-vampiro "Bak-Jwi", Jane Campion, que em 1993 venceu com "O Piano", volta com "Bright Star", Quentin Tarantino (que levou um chute direto para o sucesso no Festival em 1994, com seu Pulp Fiction, trazendo junto um esquecido John Travolta) apresenta seu filme sobre nazismo em Bastardos Inglórios, entre outros.
Há ainda o monumento Alan Resnais com seu filme Les Herbes Folles.
É dito que esta edição de Cannes traz temas extremamente sombrios. Além do filme de Chan-Wook, Lars Von Trier traz Anticristo, Johnnie To apresenta Vengeance, Sam Raimi da uma folga ao Homem-Aranha e volta aos tempos de Evil Dead, mostrando seu Drag Me To Hell, além de Michel Haneke, diretor do perturbador Violência Gratuita e de Caché, que traz "Das Weisse Band".
Na mostra Um Certo Olhar (dedicada a novos realizadores), Heitor Dhalia (Nina, O Cheiro do Ralo) chega envolto a expectativas com seu filme "À Deriva", que conta com Débora Bloch e o ator francês Vincent Cassel.
Francis Ford Copolla, esnobado pela competição principal, apresenta "Tetro" na Quinzena dos Realizadores, alegando uma "volta às origens" de seu cinema independente. (sei...)
A seguir, a programação oficial de Cannes 2009:
Filme de Abertura: "Up" de Peter Docter (fora de competição)
Filme de encerramento: "Coco Chanel et Igor Stravinsky" de Jan Kounen (fora de competição)
Seleção oficial dos filmes que concorrem à Palma de Ouro
-- "Los Abrazos Rotos" de Pedro Almodovar (Espanha)
-- "Fish Tank" de Andrea Arnold (Inglaterra)
-- "Un Prophete" de Jacques Audiard (França)
-- "Vincere" de Marco Bellocchio (Itália)
-- "Bright Star" de Jane Campion (Nova Zelândia)
-- "Map of the Sounds of Tokyo" de Isabel Coixet (Espanha)
-- "A l'Origine" de Xavier Giannoli (França)
-- "Das Weisse Band" de Michael Haneke (Alemanha)
-- "Taking Woodstock" de Ang Lee (Taiwan-EUA)
-- "Looking for Eric" de Ken Loach (Inglaterra)
-- "Spring Fever" de Lou Ye (China)
-- "Kinatay" de Brillante Mendoza (Filipinas)
-- "Soudain le Vide" de Gaspar Noe (França)
-- "Bak-Jwi" de Park Chan-wook (Coreia do Sul)
-- "Les Herbes Folles" de Alain Resnais (França)
-- "The Time That Remains" de Elia Suleiman (Palestina)
-- "Inglourious Basterds" de Quentin Tarantino (EUA)
-- "Vengeance" de Johnnie To (Hong Kong)
-- "Visages" de Tsai Ming-Liang (Malásia)
-- "Antichrist" de Lars von Trier (Dinamarca)
Fora de competição
-- "The Imaginarium of Doctor Parnassus" de Terry Gilliam (EUA)
-- "Agora" de Alejandro Amenabar (Espanha)
-- "L'Armee du Crime" de Robert Guediguian (França)
Sessões da meia-noite
- "A town called panic" de Stéphane Aubier e Vincent Patar (Bélgica)
- "Drag me to hell" de Sam Raimi (EUA)
- "Ne te retourne pas" de Marina de Van (França)
Sessões especiais
- "My neighbor, my killer" de Anne Aghion (França)
- "Manila" de Adolfo Alix Jr e Raya Martin (Filipinas)
- "Min ye" de Souleymane Cisse (Mali)
- "L'épine dans le coeur" de Michel Gondry (França)
- "Petition" de Zhao Liang (China)
- "Kalat Hayam" de Keren Yedaya (Israel)
Indicados do "Un certain regard"
- "Mother" de Bong Joon Ho (Coreia do Sul)
- "Irène" de Alain Cavalier (França)
- "Precious" de Lee Daniels (EUA)
- "Demain dès l'aube" de Denis Dercourt (França)
- "À deriva" de Heitor Dhalia (Brasil)
- "Kasi az gorbehaye irani khabar nadareh" de Bahman Ghobadi (Irã)
- "Los viajes del viento" de Ciro Guerra (Colômbia)
- "Le père de mes enfants" de Mia Hansen-Love (França)
- "Amintiri din epoca de aur" de Hanno H¶fer, Razvan Marculescu, Cristian Mungiu, Constantin Popescu e Ioana Uricaru (Romênia)
- "Skazka pro temnotu" de Nikolay Khomeriki (Rússia)
- "Dogtooth" de Yorgos Lanthimos (Grécia)
- "Tzar" de Pavel Lunguin (Rússia)
- "Independencia" de Raya Martin (Filipinas)
- "Politist, adjectiv" de Corneliu Porumboiu (Romênia)
- "Nang mai" de Pen-Ek Ratanaruang (Tailândia)
- "Morrer como um homem" de Joao Pedro Rodrigues (Portugal)
- "Eyes wide open" de Haim Tabakman (Israel)
- "Samson and Delilah" de Warwick Thornton (Austrália)
- "The silent army" de Jean Van de Velde (Holanda)
Para alguém que se dedica quase que inteiramente ao estudo das imagens, sintetizar as idéias num único texto não é uma tarefa das mais fáceis. A velocidade é tamanha dentro dos fluxos de informação e as novas conexões de nosso cérebro já estão tão acostumadas com tal velocidade que o corpo praticamente grita ao menor sinal de relativa pausa.
A escrita é uma pausa, é um exercício de raciocínio e descanso. É também uma forma de expressão que passa por um momento de transição. Diante dos recursos das novas tecnologias e nas cada vez mais rápidas transformações em todo o nosso redor – e mesmo dentro de nosso micro - universo - orgânico –, fica uma interrogação para saber para onde caminha a escrita.
Meu grande assunto é o cinema e já há algum tempo sinto a necessidade de escrever sobre esse assunto. Sou estudante de comunicação e tenho o cinema como interesse específico e como grande paixão. Assisto a uma quantidade absurda de filmes, muito maior do que um espectador comum, ainda que não chegue perto dos cerca de seiscentos a oitocentos títulos que críticos como Rubens Ewald Filho ou Pablo Vilhaça assistem por ano. Fico na casa dos duzentos, mais ou menos. Diante dessa realidade, é impossível encontrar pessoas suficientes para discutir cada um dos títulos, mesmo porque nem todos são realmente dignos de alguma discussão, ainda que, mesmo com filmes “feijão-com-arroz”, haja também uma seleção.
Escolhi abrir esse espaço com um duplo objetivo. O primeiro é deixar registradas minhas reflexões a respeito do cinema, seja através de críticas e análises de filmes, de diretores, de trabalhos de cunho audiovisual, entre outros. O segundo é tentar identificar dentro do exercício da escrita, como minha visão se estabelece a respeito de meu objeto de estudo. Resumindo, é um exercício de síntese.
Para isso, convido você que está lendo a embarcar nesse exercício conjunto de mergulho no universo cinematográfico para que possamos desvendar o que existe por trás do universo das imagens e da inventiva mente de seus realizadores. Possivelmente, durante esse processo, acabemos esbarrando em nós mesmos e as surpresas desta descoberta podem acabar sendo muito prazerosas, assim como a experiência do cinema.
Bem vindo a todos, esta é a nova versão da Mansão Roswell. Por razãos de integração, acabei migrando para o blogspot e deixei, por ora, o endereço no wordpress em descanso.
Após algum tempo em recesso, pretendo voltar a ativa com o exercício de, no mínimo, um post por semana. A novidade vem por conta de que, provavelmente, ainda que o cinema seja o assunto principal, outros assuntos relacionados a cultura podem aparecer eventualmente.
Acontece nesse mês de abril, do dia 9 ao dia 30, no Cinesesc de São Paulo, o Festival Sesc de Melhores de Filmes eleitos pelo público e por críticos de cinema.
Também haverá uma exposição do artista visual Mike Mike: Tela e Platéia - 35 anos de melhores. O projeto de Mike Mike, intitulado "Face of Tomorrow" (A Cara do Amanhã), homenageia o público freqüentador do CineSESC ao captar uma centena de imagens de pessoas e fundi-las.
São 54 títulos e uma boa oportunidade de ver ou de rever alguns filmes que passaram pelas salas de cinema em 2008.
Entre opções conhecidas e títulos que passaram batido pelas salas de cinema, vale a pena. O único problema fica por conta do ingresso que subiu de R$ 4,00 para R$ 8,00 (estudantes, professores e idosos pagam meia).O pessoal do Cinesesc percebeu que os festivais vêm se tornando uma boa oportunidade de lucrar . Malditos...¬¬’
Abaixo segue a programação (em negrito estão os filmes que conferi no ano passado).
Estão sendo dias cheios, e acabei diminuindo drasticamente o número de postagens. Mas as coisas estão se acalmando e tentarei voltar ao objetivo de, no mínimo, um post por semana.
Por enquanto, deixo um trailer que não é nada menos do que lindo. Onde Vivem Os Monstros é o novo filme do diretor Spike Jonze (de Adaptação e Quero Ser John Malkovich) baseado no livro infantil do autor Maurice Sendak. Publicado originalmente em 1963, o livro acompanha Max, um garoto malcriado mandado para a cama sem jantar. No quarto, ele começa a imaginar um mundo exótico, a terra de Wild Things, povoado por criaturas selvagens estranhas, que recebem o menino como seu regente.
Trailers não salvam filmes, aliás, não é raro passarem uma idéia totalmente errada ou serem prévias muito melhores do que seus resultados finais. Mas não custa nada sonhar, assim como faz o garotinho Max.;-)
Saí pesado da sessão de Entre Os Muros da Escola, exausto, com dificuldade de ligar alguns raciocínios. Percebi que o filme exigira demais de mim, que por quase duas horas tentei em vão encontras certos e errados para poder dormir com a consciência tranqüila. Felizmente, eu não encontrei nenhuma resposta cômoda.
Entre Os Muros da Escola, do diretor Laurent Cantet, mostra o dia-a-dia de um professor de francês e sua turma da 7ª série de um colégio público na França. Os alunos representam a pluralidade étnica resultante tanto da globalização quanto dos tempos da França colonizadora. Nesse aspecto, o filme mostra-se bastante atual, não se esquecendo do preconceito que cada grupo expressa a respeito do outro, ainda que maquiados pela imaturidade dos jovens.
Não há muito que dizer de “história”, pois o filme se desenvolve ora por fatos específicos que desencadeiam ações posteriores, ora por fatos isolados de algum dia qualquer durante o ano letivo.
Isso reforça a opção pela imparcialidade do diretor Cantet, ainda que acompanhemos o professor François Marin por todo o filme. Na verdade, mesmo que tente seguir o rigor das regras do seu trabalho, parece que Marin é um dos poucos que consegue enxergar o outro lado, o do aluno.
É essa questão que transforma o filme num exercício tão difícil. Provavelmente, se eu o tivesse assistido há 5 anos, não seria tão difícil escolher um lado como é agora. O filme nem mesmo parece exigir isso. A proposta é de representar o pequeno universo que dentro dos muros de uma escola – a única cena exterior é a do começo do filme, quando Marin toma seu café numa lanchonete - e como se relacionam seus principais habitantes, alunos e professores, que por si só já compõe mais dois outros universos que é o dos jovens adolescentes e o dos adultos. Para explicitar essa situação: a cena do professor que entra na sala dos professores esbravejando seus alunos e desabafando sobre suas frustrações enquanto seus colegas apenas o ouvem solidariamente até que, sozinho, ele se acalma; no outro lado, os alunos se juntam em protesto contra a possível expulsão de um colega, que protagoniza momentos de céu e inferno no mesmo ano.
Existe um balanço de forças durante o filme. Se os jovens são inexperientes e imaturos, não deixam de ser cruéis em suas palavras ou ações, assim como os professores que se dedicam à educação, mas esbarram na necessidade de cumprir as leis que lhes impõe as instituições da sociedade.
O grande objetivo (e problema) da comunicação acaba mesmo sendo o “outro”, a necessidade de se fazer entender pelo outro. Se a intenção era explicitar esse imenso ruído na comunicação entre professores e alunos, na difícil tarefa de conduzir a educação nas escolas (principalmente as não-particulares), o sentido ficou bem claro.
Breve matéria divulgada no site da Veja (!!! não me xinguem).
Classe C e cinema: afastados pelo ingresso
Por Maria Carolina Maia
Recentemente, o cineasta Fernando Meirelles contou que, quando pensa em fazer um trabalho para o público brasileiro, prefere a TV. "Nem todo mundo pode ir ao cinema, mas quase todo mundo tem televisão em casa", explicou. A declaração reflete um dos maiores obstáculos do cinema nacional, na visão dos profissionais de mercado: o valor do ingresso dificulta o acesso do público às salas - especialmente da classe C. "E esse é um público potencial do cinema nacional", afirma Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Em São Paulo, por exemplo, paga-se em torno de 20 reais para ver um filme na tela grande. Quando se considera o custo do pacote transporte-entrada-pipoca, a barreira cresce.
Cinema em casa - Para Rangel, duas medidas permitiriam que o preço do ingresso caísse. Primeiro, a moralização do uso da meia-entrada, com a redução do volume de carteiras de estudantes falsificadas. Segundo, a expansão do número de salas. Além de pequeno, o parque exibidor brasileiro tem baixa capilaridade. São cerca 2.200 salas em todo o país, concentradas em três pólos, todos próximos: a cidade de São Paulo (com 10% dos cinemas), a cidade do Rio e o interior paulista. E, mesmo nesses mercados, há concentração de salas em shoppings centers.
"Quem ganha um salário mínimo nem passa perto dos shoppings, quanto mais das salas da rede Cinemark", reclama o roteirista e diretor Paolo Gregori. "Assistir a um DVD em casa com a família é muito mais barato", diz Maurício Ramos, produtor da VideoFilmes.
'Ciclo virtuoso' - Outra consequência do diminuto parque exibidor é que ele acaba por limitar a produção doméstica. Para o professor João Guilherme Barone, coordenador do Departamento de Produção Audiovisual da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), esse é mais um entrave para o cinema nacional. "O mercado exibidor está encolhido, só atende a 5% da população, e há um embate enorme para fazer circular os filmes brasileiros, o que é um absurdo, mas é real."
A questão, em tese, é simples: se as salas de exibição fossem mais numerosas e mais bem distribuídas, poderiam receber uma plateia maior, em todo o país. O aumento na venda de ingressos, por sua vez, permitiria uma queda no preço das entradas - viabilizando um incremento na demanda e na produção. De acordo com Ramos, da VideoFilmes, longas de ficção precisam de 150.000 espectadores para dar retorno ao produtor. Para dar lucro, é preciso passar, pelo menos, de 300.000 pagantes. Ou, com segurança, de 500.000.
Produção x crise - Rangel, da Ancine, aponta ainda outros obstáculos a serem superados pela produção cinematográfica nacional. "É preciso que os nossos produtores saibam com que parcela do público querem dialogar e os distribuidores, como atingi-la." Segundo ele, a agência não estipula metas para a participação brasileira na bilheteria, mas procura estimular a produção. No final de 2008, a Ancine lançou o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que neste ano deve injetar 74 milhões de reais no mercado. Além disso, o mecanismo de incentivo - principal fonte de recursos dos produtores locais - pode irrigar o setor com cerca de 150 milhões de reais.
Esta, aliás, é uma questão que preocupa alguns representantes do mercado. Para Bruno Wainer, da distribuidora Downtown Filmes, neste ano a produção nacional pode padecer de uma redução de recursos, por conta da crise. "Se as empresas lucrarem menos, pagarão menos impostos e haverá menos dinheiro para captar", resume. A questão é um efeito do principal mecanismo de fomento do cinema doméstico: a renúncia fiscal, pela qual as empresas abatem do imposto de renda devido aos cofres públicos o montante que investem nas produções nacionais.
Lula - Rangel admite que o perigo de redução de recursos existe. Mas sustenta o discurso do governo federal, segundo o qual o Brasil, no meio da pneumonia global, vai pegar no máximo um resfriado - uma espécie de versão cinematográfica das metáforas do presidente Lula. "Há de fato a hipótese de que este ano, por causa da crise, a captação diminua. Mas, embora cresça menos, o Brasil vai continuar se expandindo. Então, as empresas vão ter dinheiro de renúncia fiscal para investir em cinema."
Ele garante ainda que há projetos que já concluíram sua captação de recursos no final de 2008, em meio à instabilidade financeira internacional. É o caso de Luz nas Trevas, a continuação de O Bandido da Luz Vermelha, produzido pela atriz e diretora Helena Ignez, viúva de Rogério Sganzerla - que rodou o longa original e escreveu o roteiro do segundo. Agora, o personagem-título é encarnado pelo cantor Ney Matogrosso. A direção é dividida entre Helena e Ícaro Martins.
Uma das palavras que parecem vir à mente quando se lê a sinopse do filme O Lutador é a palavra redenção. Homem que já teve seus dias de glória no passado e agora caminha no esquecimento recebe uma segunda chance de reparar alguns erros e voltar ao topo. Seria uma típica história de reparação, não fosse um importante fato: a tal redenção chega sim afinal, mas para o diretor Darren Aronofsky e com ainda mais força para seu ator protagonista, Mickey Rourke. E a segunda chance do lutador do título, bem, apesar das aparências, não há segundas chances aqui.
Randy “The Ram” Robinson (Mickey Rourke) teve seu auge como lutador de wrestling (luta - livre por aqui) na década de 80, e foi caindo no esquecimento durante as décadas seguintes. Vive agora da fama do passado, respeitado por todos os companheiros e sendo aclamado nos pequenos ginásios ou ringues improvisados onde ainda consegue “atuar”. Após uma luta, Randy tem um enfarte, e é aconselhado a não lutar mais, pois seu coração, após anos de bebidas, lutas, uso de anabolizantes e tudo o mais que o instinto autodestrutivo do personagem pudesse suportar, está agora fraco demais e não se sabe até que ponto pode agüentar. Aparece aqui a oportunidade para que ele refaça sua vida, se aproximando da filha Stephanie (Evan Rachel Wood) que negligenciou durante anos, da stripper Cassidy (Marisa Tomei) e que se estabeleça em seu emprego “normal” no setor de frios e açougue de um supermercado. Mas estamos na época da comemoração de vinte anos da luta entre The Ram e o “Aiatolá”, ponto máximo de sua carreira, e um festival será organizado para oferecer a revanche. Randy vê aqui a oportunidade de resgatar os anos gloriosos.
A premissa é simples e, aparentemente, até clichê, mas ao se assistir ao filme, percebe-se estar diante de uma obra de qualidade única no cinema, a começar pelo seu personagem. Randy não está em busca de redenção, quer apenas fazer o que gosta, a única coisa que o faz se sentir vivo, mas quando o médico o aconselha a não lutar mais, ele é obrigado a olhar para a força do tempo que passa, para o próprio caminho que trilhou e para a vida que levou nos últimos vinte anos. Perceber que o personagem, ao longo do filme, vai tomando consciência de que o tipo de vida que leva e seus valores pertencem à outra época é tocante, pois Randy ama de verdade o “seu tempo”, mas é obrigado a caminhar por aí como uma relíquia, como espólio de algo que já passou. Se hoje em dia ele simplesmente vaga por aí, não há forma melhor de mostrar isso do que com a câmera na mão. Ela o segue por todos os lados, permitindo que ele escolha o caminho, o que reforça o sentimento de deslocamento, uma vez que são longos os corredores pelos quais ele costuma passar.
O contraste de O Lutador com os outros filmes da carreira de Darren Aronofsky é assustador. Se ele apostava numa linguagem extremamente fragmentada e psicológica em Pi e Réquiem Para Um Sonho, ou pela fantasia estética- visual e introspecção em Fonte da Vida, aqui o clima é mais seco, as cores, com exceção dos “colantes” dos lutadores e do sangue, são frias, tudo é excessivamente duro, tudo excessivamente pesado, como a carga que Randy carrega. Mas é ainda mais impressionante encontrar nesse cenário áspero, espaços para o simbolismo. Quando se pensa que a aposta seria em mais uma obra calcada no que parece ser lei hoje em dia, o realismo, há a cena do corredor onde The Ram veste seu “uniforme” de trabalho, atravessa os corredores escuros, se alonga fisicamente, o grito do público cresce numa constante, ele hesita por alguns instantes e... tudo se silencia, pois ao invés do ringue, temos o balcão do supermercado. Doído demais. Em 2006, Aronosky saiu injustamente sobre um mar de vaias por Fonte da Vida. Críticos de todo o mundo acusaram o jovem diretor de perder a mão (isso apenas em seu terceiro filme), que ele era pretensioso e que nunca mais faria nada na relevância de Réquiem... e Pi. Saiu em 2008 com o Leão de Ouro em Veneza e, só não foi indicado à melhor diretor e melhor filme em outras categorias porque as organizações não cessam de fazer injustiças a torto e a direito (Christopher Nolan que o diga).
Não por acaso, após Veneza, a divulgação de O Lutador se focou na interpretação de Mickey Rourke. Numa escalada freqüente de bons papéis na década de 80, trabalhando com bons diretores e sendo correto em suas atuações, o ex-galã entrou na década seguinte fazendo uma série de escolhas erradas. Abandonou a carreira no cinema para se dedicar ao boxe, fez muitas plásticas, envolveu-se em escândalos dos mais diversos e, quando tentou retornar ao ofício de ator, fez algumas escolhas equivocadas. Mas nos últimos anos, começou a ser relembrado por alguns diretores e, se o Marv de Sin City lhe rendeu certa atenção, é apenas com o filme de Aronofsky que ele retorna definitivamente a atuação, no desempenho de sua vida. Até poderia se valer da máxima de que a vida se confunde com a ficção em O Lutador, porém, Randy não é Rourke, mas Rourke sabe que poderia ser Randy. É preciso coragem para olhar para a própria vida e rever as decisões erradas que se tomou. Em seus discursos de agradecimento pelos prêmios que vêm colhendo pela sua atuação no filme, Rourke não deixa de lado o passado e reafirma que está buscando seu caminho novamente, assumindo problemas das decisões que tomou na última década. 90´s sucks! diz Randy, 90´s sucks! deve pensar Mickey Rourke. Sua entrega física ao personagem The Ram é tão impressionante quanto os limites físicos que podem chegar os lutadores de wrestling para entreter o seu público (como cortar a si mesmo). E seu olhar diz tanto quanto suas palavras, que não são menos fortes. “Sou apenas um pedaço moído de carne, e mereço ficar sozinho. Só não quero que você me odeie” diz ele a sua filha Stephanie. Ou quando ele conta sofre seu enfarte para a personagem de Marisa Tomei (linda e perfeita no papel) e ela apenas diz que vai ficar tudo bem, mas que ela tem que voltar ao trabalho. Quanto ao olhar, difícil não se comover com o terror nos olhos de Randy ao constatar, numa espécie de convenção da velha guarda da luta - livre, que seus companheiros estão todos velhos, decadentes, sozinhos, com a saúde comprometida, quase como se encarasse um espelho colocado forçadamente a sua frente.
O ritmo do filme varia entre o intenso e o pacato, mas há algo ali que conduz o espectador o tempo todo, sem que se saiba ao certo o que é isso. O brilhantismo da fita de Darren Aronofsky e Mickey Rourke espera até os seus últimos minutos para se revelar. E é num momento catártico onde, enquanto Randy se agiganta, somos colocados finalmente à distância, apenas para assistir ao momento e permitir que o personagem viva aquela emoção sozinho, que tudo o que foi mostrado até aquele momento se torna inesquecível. Não me lembro de um final tão coerente e que dê tanto sentido a tudo o que foi construído até então. É o momento de redenção do diretor, que não devia nada a seus críticos, mas deve ter tido sua auto-estima tão abalada que precisava provar algo a si mesmo. É o momento de redenção do ator, que não só precisava provar algo a si mesmo, quanto desejava agradecer a todas as pessoas que um dia acreditaram nele, além daqueles que nunca o abandonaram.
Mas não é a redenção de Randy “The Ram” Robinson. Seu tempo já passou, ele já fez demais. Só o que importa agora é aquela sensação, aquele momento, aquilo que ele sabe fazer. O que vier depois não importa. Ele nos deixa comovidos com sua presença, nos dá força, e deixa para nós a última palavra, o último grito. Pois ele é apenas um lutador.
Fica na letra da linda canção de Bruce Springsteen o que reflete o que é, desde já, um dos melhores filmes do ano e, particularmente, um dos melhores filmes que o cinema já ofereceu.
Bruce Springsteen - The Wrestler
Two, three, four
Have you ever seen a one trick pony in the field so
happy and free?
If you've ever seen a one trick pony then you've seen
me
Have you ever seen a one-legged dog making his way
down the street?
If you've ever seen a one-legged dog then you've seen
me
Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I
had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the
blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?
Have you ever seen a scarecrow filled with nothing but
dust and wheat?
If you've ever seen that scarecrow then you've seen
me
Have you ever seen a one-armed man punching at nothing
but the breeze?
If you've ever seen a one-armed man then you've seen
me
Then you've seen me, I come and stand at every door
Then you've seen me, I always leave with less than I
had before
Then you've seen me, bet I can make you smile when the
blood, it hits the floor
Tell me, friend, can you ask for anything more?
Tell me can you ask for anything more?
These things that have comforted me, I drive away
This place that is my home I cannot stay
My only faith's in the broken bones and bruises I
display
Have you ever seen a one-legged man trying to dance
his way free?
If you've ever seen a one-legged man then you've seen