sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button
















Era o final da Primeira Grande Guerra Mundial e Benjamin Button nascia em circunstâncias incomuns: seu enrugamento não era devido aos nove meses banhado em líquido, mas a um estado quase decréptico, como se Benjamin Button estivesse no fim de sua vida, nos últimos instantes antes de sua morte. Apavorado, seu pai o larga em uma porta qualquer, que ironicamente se revela uma casa de repouso de idosos. Benjamin então é criado lá como se não tivesse muito tempo de vida, mas, com o passar dos anos, percebe que ao contrário das outras pessoas, ao invés de envelhecer fisicamente ele está ficando mais jovem.


É baseado num conto do autor estadunidense F. Scott Fitzgerald, que o diretor David Fincher (Seven, Clube da Luta, Zodíaco) repete pela terceira vez a parceria com o ator Brad Pitt e cria uma bonita fábula para adultos sobre a morte, o passar do tempo e a aceitação do diferente.


O Curioso Caso de Benjamin Button conta a saga de seu personagem título nascido em Nova Orleans, no estado de Louisiana, desde o ano de 1918 até 2005, com a chegada do Furacão Katrina. O roteiro do filme é de Eric Roth, o mesmo de Forrest Gump – O Contador de Histórias, e talvez por isso a semelhança com a trajetória do personagem abobado de Tom Hanks se faça presente em muitos momentos. Benjamin, ao longo dos anos e com a curiosidade daqueles que são obrigados a enxergar a vida com outros olhos, passa por momentos históricos do século XX e, se não os influencia diretamente como Forrest, não deixa de se enriquecer com todas as experiências.


E assim como o personagem de 1994, ele também cultiva um amor durante toda a vida. Daisy conheceu Benjamin quando os dois ainda eram “crianças” e, apesar de não se prender a esse amor, ele nunca se esqueceu da bela jovem. Entre encontros e desencontros, é no meio de suas vidas, por volta dos quarenta e poucos anos, quando os dois parecem ter fisicamente a mesma idade, que se desenvolvem as reflexões sobre o tempo e a morte de maneira mais presente e inevitável.


No filme de Fincher, a morte é constantemente lembrada como característica intrínseca à vida. Como dizem os personagens, mesmo que lutemos contra e reclamemos, quando chegar a nossa hora, não há nada a fazer a não ser se conformar. A partir disso, pensar como Benjamin Button é pensar como alguém que não permitiu que eventuais adversidades pudessem impedi-lo de descobrir a vida e tudo o mais que ela tem a oferecer.


Assim como uma fábula, cheia de signos e símbolos, a impecável direção de arte, a trilha sonora, a incrível maquiagem, a montagem, tudo construído para capturar o espectador e levá-lo a imergir nesse mundo extremamente misterioso e atraente aos olhos do personagem título. Mas, ao mesmo tempo, um estranho realismo se alia o tempo todo com esses artifícios representativos. Talvez um tema tão caro aos homens até hoje como é a morte ou a passagem de um conto-de-fadas na recém destruída Nova Orleans nos traga a todo o momento de volta ao mundo real, percebendo que aquela história fala de nós mesmos, de nossos medos, de nossos preconceitos, e de nossos sonhos frustrados ou abandonados pelo caminho.


A posição curiosa de Benjamin Button, sua tranquilidade e sua forma de olhar para tudo como se fosse a primeira vez, vai revelando a nossa frente todo um mundo fascinante, e como ele mesmo diz a certa altura do filme, que não olha para si mesmo, nós também deixamos de prestar atenção nele (que contorna em pouco tempo o caráter grotesco de sua aparência em um incrível carisma) para olharmos para o mesmo mundo e para as figuras que encontramos pelo caminho, como se não conseguíssemos mais fazer isso na vida real, quando nossa visão está tão acostumada a tudo, que só precisamos de um detalhe ou de um vislumbre para “concluir” o resto. Talvez por isso, apesar de sabermos seu destino, a cada fase de rejuvenescimento nos espantemos mais com sua aparência, com a qual rapidamente já havíamos nos acostumado antes. É na dificuldade e obstinação ao andar de muletas, num tímido olhar no elevador, na fala mansa, sulista e arrastada ou na postura de um corpo franzino de um quase adolescente que nos transformamos e reagimos da mesma forma que Benjamin, nos identificando, cada um da sua maneira.


Depois do reconhecimento de uma carreia construída com filmes de temáticas fortes como o thriller Seven – Os Sete Pecados Capitais, o cult Clube da Luta e o tenso Zodíaco, David Fincher escolhe aqui um trabalho bastante diferente na história de sua cinematografia, e se sai bem. Se O Curioso Caso de Benjamin Button não é a fábula contemporânea definitiva, é ao menos um belo trabalho de maturidade, seja de seus criadores – e aqui destaco as figuras essenciais de David Fincher e Brad Pitt -, seja do próprio personagem título, que mesmo tendo como “adversidade” uma característica que é o sonho de muitas pessoas, percebe que o caminho do início ao fim acaba sendo bastante semelhante aos que são normais. E é brilhantemente que Daisy diz à frase que resume nossas vidas: “no final, todos nós usamos fraldas”. ;-)




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Um comentário:

  1. Vi o filme ontem, e eh impressionante como as 3 horas passam de maneira tão agradável pelo encanto do filme. Concordo com a denominação fábula, pois é uma história surreal que serve como pano de fundo para questões tão reais que passam diariamente pela mente de todos os seres humanos. O tempo, o envelhecer, as idas e vindas do destino, da vida...
    Me apaixonei pelo filme, por sua delicadeza, inteligência, fantasia... saí do cinema sonhando (e não é pq ja era 1h da madrugada).

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